A pesquisa foi feita pela Unesco e pela
Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico. Foram testados
estudantes de 41 países, na faixa de 15 anos,
de escolas públicas e particulares.
No teste de leitura, os brasileiros ficaram
em 37º lugar. Piores, só os da Macedônia,
Indonésia, Albânia e do Peru. Nas provas de ciência
e matemática, o resultado foi ainda mais
desastroso para o ensino brasileiro: 40º lugar,
na frente apenas do Peru.
No outro extremo, tiveram melhor desempenho:
Finlândia, Canadá, Nova Zelândia, Austrália,
Irlanda, Hong Kong e Coréia do Sul. O Brasil é
um dos países que menos gastam por aluno do início
da educação até os 15 anos: só R$ 30 mil.
Como comparação, a Coréia do Sul gasta o
triplo com seus estudantes.
"Como brasileiro é uma vergonha, como
ministro é uma grande preocupação. Se
quisermos mudar isso, temos que começar já a
mudar e não vai ser de repente. Pode levar 15,
20 e até 30 anos", diz o ministro da Educação
Cristovam Buarque.
O que acontece com um jovem que lê, mas não
compreende o sentido da leitura? Quais as conseqüências
disso no dia-a-dia deste jovem?
"Não sabendo compreender bem o texto,
você não tem o acesso a texto de provas, você
não interpreta corretamente os seus enunciados.
Ao ler um livro didático é problemático também,
porque aquelas informações não são
aprendidas da maneira como deveriam ser. Às
vezes, até mesmo uma ida à livraria faz
diferença. Chegar na livraria, olhar os livros,
comentar com os filhos são atitudes que
despertam no jovem o interesse pela
leitura", explica o educador João
Guilherme Quental.
O repórter Zeca Camargo foi à Finlância, o
país apontado pela Unesco como o de melhor
desempenho em leitura nas escolas. As crianças
agora estão de férias na Finlândia. Mas Joska
vem até a escola para treinar basquete. Ele diz
que é bom vir e praticar com os amigos.
"Aqui, você aprende de um jeito
diferente e divertido, nunca faz a mesma coisa.
O professor pede para você inventar as coisas
que você quer fazer", constata.
Os brasileiros e filhos de brasileiros que
vivem na Finlândia não se surpreendem com a
pesquisa.
"É uma educação bem diferente da do
Brasil, porque eu estudei em escola publica,
apesar que meu filho estuda em escola publica,
mas a diferença é muito grande", garante
o técnico de futebol Getúlio Fredo.
Fora do Brasil há 18 anos, Getúlio teve uma
infância simples e espera que seus filhos não
passem pelo mesmo sacrifício que ele para serem
educados.
Mas o que será que existe na Finlândia que
faz com que o ensino seja considerado o melhor
do mundo? Quem sabe os alunos de uma escola pública
em Turku, uma cidade com 200 mil habitantes, não
sabem a resposta?
"Eu aprendo muita coisa de um jeito
divertido - e brinco com os amigos", diz
uma menina.
"Eu aprendo tudo de uma maneira
diferente...", constata outra menina.
Mas qual seria essa diferença? A professora
Leena Maianeme aposta primeiro na formação dos
professores, que ganham, em média, 1.500 euros
- quase R$ 5 mil brutos. Ela também ressalta a
importância da liberdade que esses professores
têm de decidir como vão dar as aulas,
acompanhando os interesses de cada aluno. Se um
deles quer se dedicar a leitura, explica Leena,
não precisa ficar sentado atrás de uma
carteira. Faca do jeito que quiser - eles sabem
que não precisam provar nada para os
professores, mas para eles mesmos!
Manuel é irmão de Luana. Os dois têm um
pai brasileiro, Marcos. Aos 13 anos, Manoel já
fala finlandês, sueco, inglês e português em
casa.
"Eles olham pra criança e vêem o que
aquela criança precisa", explica Marcos
Pinto, pai de Manuel.
Marcos mora na Finlândia há 15 anos. Casado
com uma finlandesa, ele trabalha com teatro de
marionetes. Já ganhou prêmios importantes e é
bem conhecido em Turku - um lugar muito longe de
Cuiabá, onde Marcos nasceu e estudou.
Em Cuiabá, a escola onde Marcos fez o
primeiro colegial - a Liceu Cuiabano - é de
ensino público e uma das mais concorridas do
Mato Grosso. Mas onde ele estudou a oitava série,
a Senador Azerado, tudo é muito diferente. Só
existem três computadores. As máquinas ficam
na secretaria. Os alunos nem chegam perto delas.
A leitura é pouco estimulada. Os livros do
colégio ficam no chão, embaixo de uma
prateleira. Na sala de aula, 32 alunos.
Professores com salário médio de R$ 900.
Improvisos para tapar o sol, carteiras
rabiscadas, uma antiga reclamação.
"Falta um apoio do governo em dar mais
incentivo aos alunos da escola, porque eles também
têm o direito de estudar", diz o estudante
César Macegoza, de 14 anos.
Na hora do intervalo tem merenda. Mas onde
está o refeitório? Os alunos comem em pé, no
pátio (foto). Em resumo, em matéria de educação,
a distância entre o Brasil e a Finlândia é
bem grande.
A Carol também quer ser alguém - e em seis
línguas: português, finlandês, sueco, inglês,
italiano e espanhol. Com exceção do português,
que ela fala em casa, os outros idiomas ela
aprende na escola. Ela tem 11 anos, e mora em
Helsinque, capital da Finlândia há nove anos.
E já estudou no Brasil também.
"A matemática de lá é mais difícil
do que a daqui", afirma Caroline Kohanevic,
de 11 anos.
O técnico Getúlio, acha que as coisas podem
mudar. Se o finlandês aprende muito com o
brasileiro no futebol, o Brasil não pode
aprender algo com a Finlândia na escola?
"É verdade, isso tem como
melhorar...", diz.